quinta-feira, 13 de junho de 2013

Tábua cronológica geral da história de Balasar

2.500 a.C. (c.) – Constroem-se os monumentos megalíticos das mamoas e talvez o menir da Pedra Negra.
400 a.C. (c.) – Outeiros.
600 (c.) – Vila Pouca, Vila Nova, Vila do Casal.
953 - A “Kartula de Villa Comitis, in Ripa Maris” menciona os “filhos de Gresulfo”; pode ter sido este homem que deu origem ao nome de Gresufes.
1090 (c.) – O Censual do Bispo D. Pedro menciona pela primeira vez S. Eulália de Lousadelo e Gresufes.
1160 (c.) – D. Paio Correia o Velho é dono de Gresufes (e de parte de S. Marinha de Vicente e de parte de S. Veríssimo, depois anexada a Cavalões).
1180 (c.) – D. Pêro Pais Correia passa algum tempo na Vila do Casal. Por esta altura deve ter sido construída a igreja do Matinho.
1220 – As Inquirições de D. Afonso II fazem menção de S. Eulália de Belsar, onde assinalam a Pousa Real, de Rico-Homem e de Mordomo; ignoram Gresufes.
1225 (c.) Contenda dos homens do reguengo de Agistrim com os do couto de Macieira.
1258 – As Inquirições de D. Afonso III voltam a mencionar a Pousa Real, de Rico-Homem e de Mordomo e assinalam o amádigo de D. Pêro Pais Correia na Vila do Casal; Gresufes pertencia a D. Paio Soares Correia o Velho (já teria morrido).
1343 – As inquirições deste ano mencionam em Balasar a Ponte de Guardes e da Curucânio; aventa-se a hipótese de construir uma igreja paroquial na Póvoa de Guardes. Já se não menciona a Pousa Real.
1422 – D. Fernando Guerra anexa Gresufes a Balasar.
1528 – Gresufes está anexa a Gondifelos. Um documento da Casa da Granja na Gandra menciona um Estêvão Ferreira, que fora senhor de Cavaleiros, no Outeiro Maior, e que deve ter possuído largos haveres em Balasar.
1542 – O pároco Manuel Gonçalves manda fazer o Tombo de Santa Ovaya de Balasar e Gundifelos e Gresufe, sua anexa.
1551 – Gresufes, anexa a Balasar, estava em “ermida sem cura” (sem sacerdote).
1560 (c.) – Casamento de Margarida Álvares com Gomes Carneiro, de Vila do Conde (início da família dos Carneiros da Grã-Magriço).
1608 – A Comenda de Balasar redige o seu tombo.
1622 – Primeiros Registos Paroquiais chegados à actualidade.
1700 (c.) – O P.e Carvalho da Costa escreve sobre Balasar.
1701 – Domingas Gomes oferece um ex-voto à Senhora das Neves.
1727 – Nasce D. Benta.
1737 – Bênção da nova capela-mor da Igreja Paroquial.
1737 – António da Costa Soares constrói a Capela da Senhora da Piedade.
1736 e 1758 – O P.e António da Silva e Sousa dá várias notícias sobre a freguesia nas Memórias Paroquiais.
1741 – Casamento de D. Benta com Manuel Nunes Rodrigues.
1758 – Manuel Nunes Rodrigues coloca a lápide tumular na Capela da Senhora da Lapa que mandara construir.
1760 – Morre Manuel Nunes Rodrigues e é sepultado no seu túmulo da Capela da Senhora da Lapa.
1770 (c.) – D. Benta manda fazer a ponte sobre o rio Este.
1774 – Falece a mãe de D. Benta, a 8 de Março, e é sepultada na Capela da Senhora da Lapa; falece D. Benta, em 14 de Abril, em casa do filho, na Póvoa de Varzim, e é sepultada na matriz local.
1783 – Construção do Nicho do Senhor dos Aflitos. A construção de vários nichos das Almas há-de ter acontecido em tempos próximos.
1788 – Tombo de Gondifelos, que contém informação útil para Balasar.
1795 – Falece Manuel Carneiro da Grã-Magriço, filho de D. Benta e antigo vereador da Câmara Municipal poveira.
1806 – Falece em Balasar o pai da Viscondessa de Azevedo e é sepultado na igreja local, onde virá a ser sepultada também a sua esposa, D. Francisca.
1820 (c.) – Cai a ponte de D. Benta.
1830-1832 – Redacção da última versão do tombo da Comenda de Balasar.
1832 – Aparição da Santa Cruz, no lugar do Calvário; diligências para a criação da Capela da Santa Cruz.
1834 – Expulsão do jovem reitor Manuel José Gonçalves da Silva (Abril); “Carta de Sentença Cível de Património da Capela da Santa Cruz de Jesus Cristo colocada na freguesia de Santa Eulália de Balasar” (Setembro). Início do cisma liberal.
1836 – Balasar, que pertencia ao concelho de Barcelos, passa para o da Póvoa de Varzim.
1837 – António José dos Santos é juiz de paz.
1839-1841 – António José dos Santos é administrador do concelho. Banditismo em Balasar e arredores.
1841 – O pároco expulso regressa à sua reitoria. Fim do cisma liberal.
1845 – O P.e Domingos da Soledade Silos redige o inquérito paroquial.
1846 – Maria da Fonte. António José dos Santos é eleito administrador do concelho, mas não assume o cargo; fica porém a integrar a comissão municipal.
1850 – Morre Custódio José da Costa.
1853 – Balasar transita para o concelho de Vila Nova de Famalicão.
1855 – Balasar regressa ao concelho da Póvoa. Falece D. Francisca, mãe da Viscondessa, na casa dos Viscondes de Azevedo (Palacete de Santo António do Penedo), no Porto.
1860 – Morre em Lisboa o comendador José Pedro dos Santos, balasarense que fizera fortuna em S. Luís do Maranhão, Brasil. Construção da ponte nova do Cubo.
1862 (c.) – É aberta a estrada real n.º 31, que passa a norte de Balasar.
1862-1862 e 1864-1865 – António Fernandes Campos de Sousa, de Lousadelo, foi vereador da câmara poveira; parece não ter beneficiado a freguesia. Foi pai do pároco P.e Manuel Fernandes de Sousa Campos.
1867 – A Junta de Paróquia pede ao Governo uma “cadeira de instrução primária”.
1868-1869 e 1870-1871 – José Domingues Furtado é vereador municipal.
1870 (c.) – Início da instrução primária oficial para meninos.
1877 – Abertura da linha do caminho-de-ferro da Póvoa de Varzim para Vila Nova de Famalicão. Reconstrução da ponte de D. Benta.
1878 – José Domingues Furtado voltou à câmara, mas abandonou voluntariamente o cargo de vereador, que só ocupou em parte desse ano. Abertura da estação das Fontainhas; começa a renovação da rede viária de Balasar (estradas e pontes) que se vai prolongar por uns bons sessenta anos. Construção do edifício da escola primária.
1886 – Morre a Viscondessa de Azevedo.
1895 – O P.e António Martins de Faria publica o poema a Santa Eulália.
1903-1919 – Após a morte violenta de um ex-regedor na festa do Senhor da Cruz, em 1903, esta é suspensa até 1919.
1904 – A 30 de Março, nasce em Gresufes a Beata Alexandrina. Morre Manuel Boucinhas.
1904-1907 – Questão da Fonte de Gresufes.
1905-1908 – Manuel Joaquim de Almeida é vereador da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim. É aberta a estrada desde a Quinta até Gresufes.
1906 – Reconstrói-se a ponte de D. Benta.
1907 – É demolida a Igreja do Matinho e a segunda capela da Santa Cruz e começam as obras da nova Igreja Paroquial.
1909 – No final do ano, abre ao culto a nova Igreja Paroquial ainda por concluir.
1910 – Advento da República, que teve poucas consequências imediatas para a freguesia.
1911 – Iniciam-se as obras de ampliação do cemitério; a pequena Alexandrina vai estudar para a Póvoa de Varzim. Arrolamento dos bens paroquiais por Santos Graça, administrador.
1914 – Manuel Joaquim de Almeida, que concorrera à Junta com uma lista de independentes, retira-a aos democráticos.
1915 – É concluído o cemitério paroquial.
1919 – Na sequência da Monarquia do Norte, os republicanos retomam a direcção da Junta, sob a presidência de Lino Ferreira. Mudança de pároco: entra o P.e Manuel de Araújo. Manuel Lopes dos Santos Murado é vereador republicano na segunda metade deste ano e na totalidade do seguinte.
1925 – A Beata Alexandrina acama definitivamente.
1928-1942 – Grave crise económica na freguesia que leva à ruína mais duma dezena de grandes casas de lavoura.
1929 – Criação da Feira das Fontainhas.
1931 – Início das aulas para meninas em casa alugada.
1932 – Ataque aos protestantes.
1933 – Mudança de pároco: entra o P.e Leopoldino Mateus. Obras na Capela da Santa Cruz. Nesse ano e no seguinte, é publicado n’A Propaganda um longo estudo sobre a Santa Cruz, provavelmente da autoria do P.e Leopoldino.
1937 – Ampliação da escola para proporcionar uma sala para cada sexo.
1937-1940 – O industrial das Fontainhas José António de Sousa Ferreira ascende a vereador.
1941 – O P.e Terças dá a conhecer as vivências místicas da Alexandrina ao país.
1942 – Consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, de que a Beata Alexandrina foi a mensageira. Começo o jejum. Pesquisa de volfrâmio na freguesia.
1944 – Veredicto contra a Alexandrina que acaba por chamar ainda mais sobre ela a atenção popular.
1947 – Sai no Jornal de Notícias uma reportagem notável sobre a Alexandrina.
1950 – Chega a energia eléctrica a Balasar.
1951 – Inauguração da escola primária das Fontainhas. O médico João Ferreira Gonçalves da Costa ascende a vereador.
1952-53 – O extraordinário afluxo de visitas à Alexandrina motiva as atenções da Câmara Municipal que efectua alguns melhoramentos viários. Polémicas em jornais.
1955 – A Beata Alexandrina morre a 13 de Outubro. O seu funeral foi um acontecimento como nunca se vira nas redondezas. Ergue-se o cruzeiro paroquial.
1956 – Mudança de pároco: entra o P.e Francisco de Azevedo. Publicação d’Uma Vítima da Eucaristia.
1957 – O Dr. Azevedo cria o Boletim de Graças.
1958 e 1959 – O P.e Leopoldino publica o seu estudo toponímico sobre Balasar e o estudo sobre a Santa Cruz.
1966 – Fundação da Algot; começa a laborar no ano seguinte.
1968-1973 – Processo Informativo Diocesano da Beata Alexandrina, passo moroso e dispendioso, mas fundamental para se chegar à Beatificação.
1977 – Ampliação da Igreja (capela-mor), com remoção dos altares laterias e da talha; colocação dos vitrais.
1978 – Trasladação dos restos mortais da Beata Alexandrina para o túmulo da Igreja Paroquial.
1982-1988 – Guerra dos Eucaliptos.
1985 – S. Pedro de Rates é substituído por S. Martinho de Dume como padroeiro da Diocese de Braga confirmando o termo duma devoção que em Balasar já se extinguira.
1995 – Encerramento definitivo da Algot.
1994 (21/12) - Inauguração da sede da Junta de Freguesia.
1996 – Publicação do Decreto das Virtudes Heróicas da Beata Alexandrina.
2004 – Beatificação da Alexandrina. Mudança de pároco: entra o P.e José Granja.

2010 – Mudança de pároco: entra o P.e Manuel Casado Neiva. É criada a Fundação Beata Alexandrina.

sexta-feira, 25 de março de 2011

A PALAVRA BALASAR


O P.e Leopoldino Mateus menciona um escrito do P.e Arlindo Ribeiro da Cunha sobre a origem da palavra Balasar (1): ela deriva de Belisário.
São as seguintes as formas antigas sob que ela ocorre: Belsar, Belesar, Bassar, Balssar, Ballassar.
É de admitir que a sílaba final se leu sempre como zar, apesar dos registos gráficos: Belzar, Belezar, Bazar, Balzar, Ballazar. A história duma palavra é sobretudo a do seu uso oral e esta sílaba tónica, que se lia como em Belisário, há-de ter permanecido inalterada.
Como Belsar e Belesar, por um lado, e Balssar e Ballassar, por outro, são formas muito semelhantes, juntando-se-lhes Bassar, ficam três versões do topónomo a merecer atenção.
Belesar e Belsar só diferem num pormenor do registo escrito: umas vezes respeitou-se aquele e a seguir ao l, outras não; em termos de pronúncia era quase a mesma coisa.
Em relação a Ballassar e Balssar, a situação é idêntica, sem diferenças significativas para a pronúncia. Em Bassar, verifica-se o caso conhecido da eliminação dum l intervocálico; por isso corresponde a Ballassar.
Posto isto, restam duas variantes: Belesar e Ballassar. Aceitando que elas se liam Belezar e Balazar, fica apenas por explicar a substituição dos dois ee pelos dois aa.
Trata-se porém de duas formas quase igualmente antigas, já que Bassar ocorre em 1258 (2).
Quando porém se diz que o nome da freguesia deriva de Belisário, deve-se estar precavido para o seguinte: nunca terá havido qualquer Belisário em Balasar, mas só um Belsar. Paio Correia o Velho e o seu filho Pêro Pais Correia que aparecem à frente só no latim dos documentos tabeliónicos é que se chamavam, em formas alatinadas, respectivamente, Pelagius Corrigia vetus e Petrus Pelagii Corrigia, como é confirmado pelos nobiliários (3). A língua já tinha evoluído muito e as pessoas comuns não sabiam mais latim do que hoje.
Atendendo ao étimo da palavra, não há nenhuma razão para a grafar com z em vez de s no princípio da última sílaba.
O P.e Leopoldino tem contudo uma explicação para a adopção do nome de Balasar para a freguesia que é errada e que deve ser corrigida. O erro nasce dele desconhecer mesmo, ao que parece, o texto das Inquirições.
Afirmou este antigo pároco que, no momento de se juntarem as duas paróquias, se pôs a questão do nome a dar à nova realidade que surgia e que houve polémica, acabando por se adoptar a solução de eliminar os dois topónimos anteriores e optar pelo dum lugarejo insignificante. Pode ser que algo disto esteja na tradição local, mas o nome que na altura se adoptou foi o da freguesia anexante, que há muito se chamava Balasar, e não está documentada qualquer polémica a este respeito.
A ter existido alguma disputa do género, ela faria algum sentido se tivesse a ver com acontecimentos muito mais antigos, entre Lousadelo e Matinho, quando a freguesia deixou de ser Santa Eulália de Lousadelo e passou a ser Santa Eulália de “Belsar” (4).



[1] Santa Eulália de Balasar, in Boletim Cultural Póvoa de Varzim, vol. I, nº 2, 1958, págs. 1-2.
[2] Na Índia, também existe uma localidade com o nome de Balasar. Assim, tal qual.
[3] No Conde D. Pedro, o nome destes homens vem assim escrito: Paay Soarez Correa o Velho e Pero Paaez Correa.
[4] É preciso corrigir também a afirmação da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira sobre Balasar como vila romana da cividade de Bagunte. Se Balasar era nome dum lugar insignificante, nunca poderia ser nome dessa vila… Depois, na área da Balasar original, só está documentada a antiga Vila do Casal.

NAS DUAS MARGENS DO RIO ESTE


A maior parte da área de Balasar fica entre Ave e Este, o resto inclui-se entre Cávado e Este. O facto de se repartir pelas duas margens do rio, aliado a outros factores históricos, fez sempre da freguesia uma terra de fronteira.
Religiosamente, integrou-se muito tempo em Vermoim, que acabava em Guardinhos. Depois passou para o Arciprestado de Vila do Conde e Póvoa de Varzim, que termina a nascente da freguesia.
Civilmente, começou por pertencer ao julgado e Faria, que ali acabava, pois Fradelos, por exemplo, já não lhe pertencia; depois integrou-se no grande concelho de Barcelos (1); passou a seguir para o da Póvoa, não sem durante breve período ser incluída no de Famalicão. Hoje, encravada entre terras dos concelhos de Barcelos, V. N. de Famalicão, Vila do Conde e Póvoa de Varzim, limita o distrito de Porto com o de Braga.
Quando se observa o que escreveu o reitor António da Silva e Sousa nas memórias de 1758, fica claro que esta freguesia era predominantemente terra do sul do rio: 116 fogos a sul e 19 a norte. Seis vezes mais fogos a sul que a norte.
Nos 500 anos que medeiam entre o tempo das Inquirições e o das memórias paroquiais, o número de fogos a norte quase estacionou.
As quatro igrejas paroquiais que Balasar teve ficaram todas a sul; as suas vilas medievais, idem; Belsar também foi do sul. Do sul, isto é, de entre Ave e Este.


Vilas, estradas, pontes e portos

As vilas de Balasar

É comum encontrar na área das paróquias medievais várias vilas rústicas. Há uma cantiga de amigo que identifica essas vilas simplesmente com casas, mas não eram certamente umas casas quaisquer, mas casas abastadas:

Vou-me a la bailia
Que fazem em vila
Do amor.

Vou-me a la bailada
Que fazem em casa
Do amor.

As Inquirições só identificam uma vila em Balasar, a Vila do Casal, mas a toponímia dá conhecimento de mais duas, Vila Pouca (2) e Vila Nova. A razão por que estas não são mencionadas é sem dúvida por os funcionários régios não verem nenhuma necessidade de se ocupar com Gresufes (a que estas vilas pertenceriam) (3).


Estradas, pontes e portos

Há uma frase latina que afirma que o conhecimento dos caminhos fornece muita luz à história (4). Realmente uma reflexão sobre as estradas, portos e pontes é da maior importância para conhecer o passado de Balasar.
Comecemos pelos portos.
Para a freguesia, em tempos antigos, um problema crucial era a travessia do rio. No Verão, ela poder-se-ia fazer com alguma ou até muita facilidade em vários lugares, mas ficava a questão do tempo invernoso, numa terra onde as cheias alagam campos e onde até se conhecia uma lagoa.
Como é que os moradores a norte do rio podiam cumprir, por exemplo, o preceito dominical, tendo de atravessar o Este (5)?
As Inquirições de 1220 falam dum porto (6), sem qualquer indicação que permita localizá-lo: “o homem que trabalha o campo do porto dá-lhe (ao senhor da terra) o seu serviço” (7). Mas em 1258 vem uma pista que ajuda à sua localização: “Quem quer que trabalhe no campo do porto de Agistrim, que é de El-Rei, faça ao senhor da terra o seu serviço de pão” (8). Certamente este “porto” ligava o norte do rio ao Casal.
Um segundo porto em Balasar era o que um documento de 1181 menciona, o porto das Fontainhas (portum de Fontaina), que permitiria a travessia do rio a quem vinha dos lados de Barcelos ou para lá se dirigia, do sul.
Os acessos da área da antiga Gresufes são uma questão à parte: parece que havia um eixo principal que ligava a Gandra a Vila Pouca e a Fiães (e antigamente a Penices), com saída para Barcelos e V. N. de Famalicão, e um outro eixo de Vila Pouca ao Casal.
De Fiães para Além houve ponte (9). O Tombo de 1542 também fala do porto de Escariz.
As duas vilas de Gresufes, ali nas proximidades do remoto castro de Penices e da residência de Correias, em Fiães, definem um espaço que foi activo.
O nicho do Senhor dos Aflitos é uma obra pia, mas assinala também um cruzamento considerado relevante.
Onde antes, em Balasar, se falava de portos, em 1343, assinalam-se pontes, o que implica um melhoramento de monta: a Ponte de Curucânio e a ponte de Grades. A ponte do Curucânio deveria ser a antepassada da da Traquinada (10), a de Grades (Guardes) ficaria próxima da actual do Vau (11).
Em 1758, havia duas pontes de pau: no lugar da Igreja, a que viria a ser de D. Benta, e no Casal, a da Traquinada. Por aqui se vê que o Vau foi predominantemente vau: quem o quisesse passar fá-lo-ia em tempo mais seco, por poldras, possivelmente; em tempo de mais água teria de ir ao Casal.
Em 1608, o Tombo da Comenda, ao delimitar a freguesia ainda menciona (anacronicamente, sem dúvida) um porto por alturas de Escariz:

Do dito cume do monte do Xisto, vai […]; e daí continua ao longo do valo da Seara de Manuel Francisco Malta, de Balasar, até dar num marco antigo que está na entrada da Azinhaga dos Fiães; e daí corre direito ao rio Este e desce pela veia de água ao vau do porto da Lousa e daí ao topete de Montilhão, partindo sempre com a freguesia de Gondifelos.


As cheias do Este

No Inverno, o rio Este alaga vastas áreas agrícolas, num espectáculo impressionante.
Isso acontece ainda antes do rio chegar à ponte que vai da Quinta para o Calvário, mas é sobretudo espectacular a seguir, devido àquela ligeira elevação onde está o Lousadelo e que ainda avança para norte. Ela estrangula a corrente, que, por ter dificuldade em escoar, submerge então larga porção da margem.
Nos escritos da Alexandrina, há uma referência à corrente impetuosa do rio, mas não propriamente a uma cheia:

Uma vez fui visitar a minha madrinha e tive de atravessar o rio Este, que levava grande corrente, chegando a abalar umas pedras que serviam de passadiço; e, sem reparar no perigo a que me expus, atravessei a corrente por essas pedras e a água ia-me levando. Foi milagrosamente que escapei à morte, bem como minha irmã que me acompanhava.

Mas se o rio, em momentos de cheia se transforma em verdadeiro lago, noutros períodos do ano proporciona encantos bucólicos.
As cheias de final de 2009 não foram certamente as maiores aí conhecidas, mas colocam-se aqui algumas fotografias que mostram uma Balasar que só bastante raramente se pode admirar e que põem em evidência como o rio a dividia.


Os assentos paroquiais conservam memória de vários afogamentos no rio Este. Por exemplo, este:

Aos três dias do mês de Abril de mil setecentos e oito, faleceu António Álvares, de Gresufes, sem sacamentos: caiu ao rio, morreu afogado. […]

***

Bom barqueiro, bom barqueiro

- Bom barqueiro, bom barqueiro,
Deixa-me passar,
Tenho filho pequeninos,
Não os posso sustentar.

- Passarás, passarás,
Mas algum há-de ficar;
Se não for o da frente,
Há-de ser o de trás.

Trecho popular recolhido pela Prof.ª Zulmira Linhares e que em Balasar faria um sentido que não tinha em muitos outros lugares.


Balasar, vila luso-romana?

Escreveu Baptista de Lima que Balasar fora uma “vila luso-romana ainda da Cividade de Bagunte”. Deve ter deduzido isto da tese de Alberto Sampaio sobre As Vilas do Norte de Portugal e da ideia, certamente errada, de que o homem que deu o nome à freguesia teria sido alguém muito importante nesses tempos muito recuados.
Uma vila romana era um latifúndio, com vasto edifício de habitação, celeiros, currais, etc. Uma vila luso-romana deveria ser também uma exploração agrícola de grande dimensão. Mas onde estão os vestígios arqueológicos dessa vila em Balasar?
Quem visita a Cividade de Bagunte não precisa de ser muito entendido para verificar que não há ali construções romanas, antes pequenas casas da tradição castreja. Com a ocupação do território hoje português pelos romanos, os castros hão-de ter iniciado o seu ocaso: não havia mais razão para passar a vida no cume dos montes, com todos os incómodos que isso implicava.
Aquele autor relaciona o nome de Balasar com o general Belisarius (melhor, Belisarios, pois ele era grego). Ora tudo faz crer que o Belsar que deu nome à freguesia viveu apenas em finais do séc. XII, princípios do XIII. Se Santa Eulália de Belsar faz a sua aparição nas inquirições e sucede à antiga Santa Eulália de Lousadelo, entre outras razões que desconhecemos, uma terá sido a de que Belsar construiu por essa altura uma igreja nova.
Em conjunto, a toponímia e as Inquirições de 1258 identificam em Balasar as quatro vilas já referidas. Numa freguesia pequena como o Outeiro Maior, as inquirições identificaram três vilas (Gacim, Outeiro e Fornelos); em Bagunte, houve a vila de Bagunte, Vila Verde, a vila de Figueiró, a de Vilar, a de Carcavelos, a de Segemonde, etc. Mas eram vilas góticas, isto é, casas de lavoura abastadas, a uma distância de quase 1000 anos das vilas romanas.
A arqueologia conhece vilas romanas sobretudo no sul do país. Mesmo a vila Euracini não terá passado duma vila gótica, pesem embora os achados romanos ocorridos na Póvoa.
Ao menos nos séculos XI a XVI, a actual freguesia de Balasar era constituída por duas paróquias. Nos séculos XI e certamente XII, nenhuma se chamou Balasar. Além disso, pertenciam a Vermoim, o que também pode indicar menor relação com a Cividade de Bagunte.
Parece-nos admissível que a Casa de Cavaleiros, do Outeiro Maior, tenha sido a herdeira feudal dos direitos da Cividade nas redondezas. Ainda em finais do século XIX, pertenciam a esta casa muitos terrenos do Outeiro Maior, de Ferreiró, mas também de Arcos e Bagunte. Além disso, terão sido de lá talvez os maiores benfeitores do Mosteiro de S. Simão da Junqueira.
A Casa de Cavaleiros fica no início da planície, para quem desce da Cividade, e ocorreram nela alguns achados romanos, como também em Vila Verde, próximo do rio Ave, e até em Vilar, Bagunte. Poderemos assim admitir que também Balasar, onde Cavaleiros possuiu bastantes bens (12), tenha tido uma distante ligação à Cividade através desta casa. Gresufes, essa relacionar-se-ia mais facilmente com o Castro de Penices.



[1] Alguns documentos da Casa da Grandra, o tombo da freguesia e os da Comenda e até as memórias paroquiais vêm  do tempo em que Balasar se integrava no concelho de Barcelos.
[2] Estas vilas devem ser de origem gótica, mas se a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira afirma taxativamente que “Balazar foi vila luso-romana da cividade de Bagunte”, o que podia valer para Balasar também deveria de valer para Vila Pouca e Vila Nova…
[3] Ver-se-á que um documento assinala ainda uma quarta vila, quando fala da Agra de Vila.
[4] “Itinerum cognitio multum lumen historiae”.
[5] Quando, em 1831, a ponte de D. Benta sofreu grave ruína, um visitador ordenou que a Câmara de Barcelos fosse informada do estado em que ela se encontrava e nota esta limitação em que ficam os moradores a norte do Este: “no tempo do Inverno”, “não podem vir à igreja nem também serem assistidos e sacramentados nas suas doenças”.
[6] Estes portos, quando não correspondessem simplesmente a um vau, suporiam um pequeno barco, capaz de transportar duas ou três pessoas e porventura também um bovino ou até um muar. Há contextos onde a palavra porto significa apenas local de passagem.
[7] Homo qui laborat campum de Portu dat ei suum servicium.
[8] “Quicumque laboraverit in campo de portu de Agistrin, qui est Domini Regis, faciat domino terrae suum servicium panis”.
[9] Em S. Marinha de Vicente, em 1220, há “um lugar chamado Ponte” (loco qui dicitur Pons).
[10] Há um registo de baptismo de 1669 que menciona um balasarense a quem chamavam o Traquinada.
[11] Com a deslocação da Igreja paroquial para o Matinho, surgiu naturalmente a necessidade de uma nova ponte, próxima do lugar, a que mais tarde se há-de chamar de D. Benta.
[12] Em 1762, havia dez casas balasarenses que poagavam foros à Quinta de Cavavleiros e se alguns deles eram diminutos (2 ou 3,5 rasas de trigo, 10 rasas de pão), uma pagava 57 rasas de pão, outra 71, o que devia ser muito para  a capacidade produtiva das terras.

MAMOAS E OUTEIROS


Os topónimos de Balasar têm naturalmente origens muito diversas, desde actividades religiosas (Calvário, Cruz, Outeiro, Vinha do Abade, Campo da Oliveira de S. Salvador), antropónimos (Balasar, Gresufes, Gestrins, Telo), particularidades geológicas ou geográficas (Lousadelo, Fontela, Fontainhas, Vau, Montilhão, Terra Ruim, Monte Tapado, Alto de Serra, Alto de Trás da Serra, Monte de Lobos, Monte Longo, Vale de Areia, Vale Grande, Bouça do Seixo, etc.) a razões vagamente relativas à flora (Matinho, Gandra, Bouça-Velha, Campo do Trovisco, Campo da Oliveira), etc.
Nas Inquirições de 1258, ao delimitar Gestrim, assinala-se “a mamoa (mamonam) de Godim” (1); o Tombo de 1542 e o Tombo da Comenda também conhecem esta mamoa, mesmo não lhe chamando já “de Godim”: ficava nos limites da freguesia com Macieira de Rates e é hoje desconhecida mesmo na tradição local. Mas o Tombo de 1542 ainda identifica outra mamoa, nos limites de Vicente com Gresufes.
Uma mamoa é um monumento megalítico que pode remeter para o terceiro milénio antes de Cristo.
Há um lugar balasarense chamado Outeiro (2); mas houve ainda o Outeiro da Mamoa (Tombo da Comenda) e o Outeiro de Revelhe; e fala-se ainda do Outeiro de Paim, do Outeiro Redondo, da Chã do Outeiro, da Bouça do Outeiro.
Este vocábulo outeiro tem como última origem a palavra altar, provavelmente através duma forma adjectiva. Podemos supor que a evolução terá seguido este caminho: altare > altariu > autario > outerio > outeiro. Ele designa um muito antigo lugar de culto – uma colina – dos tempos pagãos. Envia assim também para alguns séculos de antes da nossa era.
Por um mapa da Balasar antiga

Outras observações de toponímia

Na sequência do que ficou dito sobre as mamoas e os outeiros, vamos tentar desbravar a origem dos topónimos Gresufes e Lousadelo.
Ao tempo dos mais antigos documentos escritos sobre a freguesia, na área da actual Balasar havia duas paróquias, S. Salvador de Gresufes e Santa Eulália; esta foi primeiro de Lousadelo (3) e depois de Balasar.
Gresufes significa filho de Gresulfo (como Henriques - D. Afonso Henriques, por exemplo - designa o filho de Henrique).
O nome Gresulfo surge na “Kartula de Villa Comitis, in Ripa Maris” ou Escritura de Vila do Conde, do ano de 953 (onde ocorre também o célebre nome Villa Euracini). No Censual do Bispo D. Pedro (4), de cerca de 1080, escreveu-se Gresulfi, aparecendo mais tarde as formas Grisuffi e Gresufe, todas sem o s final. Um pároco do século XVII ainda escrevia Gresufe.
O primitivo nome de Balasar, já se disse, foi “Santa Eulália de Lousadelo”. Era assim que vinha no Censual. Lousadelo apontava para uma característica geológica notável do lugar, a da abundância de lousas ou xistos. O sufixo elo é diminutivo.


Mais topónimos

Um topónimo quase sempre levanta duas questões, uma de etimologia, sobre a origem da palavra, e outra de história, sobre como é que essa palavra se tornou nome de tal lugar. Colocam-se a seguir breves anotações respeitantes a alguns topónimos da freguesia.
Agra - Os documentos dão conta de várias agras em Balasar, divididas nas respectivas leiras: Agra do Casal, Agra dos Feijões[1], Agra da Fonte, Agra de Pedro, Agra de Revelhe e Agra de Vila. Este nome remete para uma forma antiquíssima de propriedade rural. As agras ficavam em “áreas baixas e irrigadas, propícias ao cultivo do cereal e em especial do milho miúdo”.
Agrelos – Como agra, Agrelos tem origem no vocábulo latina ager, que significa campo.
Aguiar – Palavra que ocorre na expressão Seixos de Aguiar e que deriva de águia.
Além – Além é um advérbio que ocorre frequentemente como topónimo. Não é fácil determinar o ponto em relação ao qual o topónimo balasarense se diz além. Seria Gresufes? Seria o rio? Seria Fiães? Talvez além significasse depois da igreja, se ela ficasse a meio caminho entre o espaço mais habitado de Gresufes e o lugar com o nome de Além.
Belibosa – No século XIX esta palavra ocorre como apelido de homem e como topónimo do lugar de Gestrins.
Bouça-Velha – Diz-se velha, neste caso, por oposição a nova. Se as bouças novas fossem terrenos de lavradio que regressaram a bravo, então as velhas seriam as que sempre permaneceram bouça.
Casal – Ao longo do tempo a palavra casal adquiriu significados muito variados. Neste caso aponta sem dúvida para uma área agrícola relativamente limitada.
Calvário – O P.e Leopoldino explicou que a origem deste topónimo está numas cruzes que aí houve a assinalar estações da Via-Sacra. Já ocorre no séc. XVIII.
Chã do Painho – Nesta expressão, a palavra chã é um substantivo e significa planura; painho é nome de um pequeno pássaro. Houve também o Outeiro do Painho e provavelmente o Vale do Painho.
Covilhã – Na origem desta palavra poderia estar a palavra cova; o resto seriam sufixos. Nas Inquirições contudo encontra-se a forma Convilhana.
Cubo – Várias actas da Câmara Municipal falam do Muinho do Cubo, para referir uma ponte sobre aquele ribeiro que divide as Fontainhas deste lugar. Também escrevem Munho, que é variante popular de moinho.
Escariz – De Ascaricis, patronímico de Ascaricus, antigo nome de homem. Em 1343, registou-se a forma Ascariz.
Este – Os documentos antigos chamam este rio, que cruza Balasar, rio Deste; nos documentos medievasi em latim, chamam-lhe Alister ou Aliste[2].
Eulália – A padroeira de Balasar é a jovem santa de Mérida. Como noutros lugares, também em documentos relativos a esta freguesia o seu nome se encontra sob a forma de Ovaia e Olaia. Etimologicamente, Eulália significa bem-falante.
Fareleiro – Para este topónimo, há as formas Fareleiro e Faroleiro. Suspeitamos que correspondem à palavra Faleiro das Inquirições de 1343.
Felgueira – O mesmo que felga.
Fojo do Lobo – Fojo é uma cova.
Fontainhas – Deriva de fontana (fonte); é forma diminutiva. Nas ocorrências mais antigas, a palavra surge sempre no singular e até no masculino. De notar que em Arcos se conhece o topónimo Fontão, forma aumentativa.
Fontela – Outro diminutivo originado de fonte.
Gandra – Designa uma terra agricolamente pobre, com uma flora rasteira, o que um documento antigo parece confirmar em Balasar. É palavra que ocorre frequentemente como topónimo.
Gestrins – O vocábulo Gestrins parece ter uma formação paralela à de Martins, que se origina de Martim, que por sua vez vem de Martinho. Haveria então na origem um Gestrinus ou talvez Agistrinus (Gestrinho); ao seu filho chamar-se-ia Gestrim e ao neto Gestrins. Das várias formas medievais desta palavra a mais comum é Agistrim. Desconhece-se quem tenha sido tal Agistrinus.[3]
Na Idade Média, havia Gestrim de Cima e Gestrim de Baixo e havia seis casais de Gestrim. Sendo assim, Gestrins pode também ser um plural. No séc. XVII, o reitor João da Silva escrevia Gestrim.
Granja – Embora seja palavra que na actualidade não tem aplicação toponímica em Balasar, as Inquirições conheciam duas granjas, uma das quais correspondia à Casa da Gandra.
Guardes e Guardinhos – O étimo destas palavras é cardo[4]. De facto, o nome original seria talvez Gardes e Gardinhos, como ainda escrevia um pároco no séc. XVII. Em 1343, escreveu-se Grades. A forma mais antiga conhecida de Guardes é Gardas e de Guardinhos Guardias (Guardinhas). A “póvoa de Gardes”, de 1343, pode ter resultado da iniciativa do juiz de Faria.
Matinho – É um diminutivo derivado de mato.
Monte do Xisto – Na freguesia contam-se vários montes. Balasar é terra de xisto.
Monte de Lobos – Monte de Lobos não fica muito longe dos Seixos de Aguiar, dois topónimos que enviam para tempos muito antigos, pois ainda recordam lobos e águias.
Pedra Negra ou Pedra do Couto – Marco que  divide Balasar de Rates e Arcos. Quando se dizia Pedra do Couto, entendia-se do Couto de Rates. Houve mais pedras negras e até um Penedo Branco.
Remestilha – Esta palavra, que originalmente devia ser alcunha feminina[5], ocorre no século XIX como topónimo na saída de Vila Pouca para Gresufes.
Revelhe – Conhecem-se pelo menos o Outeiro de Revelhe e a Agra de Revelhe.
Serra da Covilhã, Serra das Pedreiras, Trás da Serra – Como em Rates, onde se fala da Serra de Rates, que não passa dum pequeno monte, também em Balasar a palavra ocorre com este significado.
Seixo Branco – Em terra de xisto, impressionava as pessoas que nele houvessse incrustações de pedra branca (quartzo?) Estes seixos brancos aparecem como marcos.
Telo – Deriva de tellus (terra) e tem a mesma origem que o apelido Teles. Embora no séc. XVIII o Telo já fosse muito povoado, não há ocorrências medievais do nome dele.
Terra Ruim – “Antítese de Terra Boa”. Na área de terreno que a sul de Terra Ruim há o monte de Lobos e o fojo; para norte identifica-se o caminho do lobo. Nas “medições” dos antigos documentos fala-se de “ruim terra” para significar terra pouco produtiva.
Tinta – Antigo lugar de Gresufes, devia ficar muito próximo da igreja paroquial.
Traquinada – Este nome Traquinada ocorre num assento paroquial como apelido dum homem.
Trás-da-Serra – A sul da Terra Ruim há o Monte das Pedreiras; mais a sudoeste ainda, fica Trás-da-Serra. A palavra serra ocorre na zona integrada em nomes de campos (Campos-Serra)[6].
Vale Grande – Como a acidentada parte da freguesia a sul desce em direcção ao rio, é natural que aí se encontrem vales, uns maiores outros menores. Vale Grande fica a sudeste e acaba em Gresufes. Há ainda os vales da Areia, da Tia, do Maiato, de Flores e Preto.
Vau – Vau diz-se do lugar do rio onde, ao menos em certos períodos do ano, se pode fazer a travessia a pé, sem necessidade de barco. Os documentos antigos identificam ao menos três vaus em Balasar.
Vila Nova – Vila Nova dever-se-ia dizer por relação a Vila Pouca, que seria anterior.
Vila Pouca – vila (vila rústica) designava uma grande quinta; pouca, por sinal, deve significar pequena. Mas como esta pequenez se diz por relação a uma área muito grande, também a Vila Pouca ocuparia uma superfície agrícola não desprezável.
Nos documentos ocorrem vários topónimos que entretanto se perderam, mas muitos que se mantêm: monte do Arroio, monte Longo, Alto de Trás da Serra, Campo da Lagoa, Campo do Cotorno, Campo da Revolta, Campo da Água, Campo do Trovisco, Campo da Oliveira de S. Salvador, Vinha da Porta, Vinha do Abade, Bouça Alegre, Bouças-Velhas do Fojo, Bouça do Sobrado, Bouças da Tripa do Meio, Bouça da Gracia, Bouça do Vale, Leiras Longas, Leira das Penas, Leira da Revolta, Leira da Senra, Leira do Fareleiro, Leira de S. Pedro, Leiras dos Cortelhos, Ribeiro de S. Salvador, Paniçais, Troitomiro, Currial, Curucânio, Artal Meão, Faleiro, as Quebradas, Cangosta de Cavaleiros, o lugar da Porta, sítio do Trovisco, Souto etc.




[1] Provavelmente, esta expressão que vem no Tombo da Comenda é erro por Agra dos Fiães.
[2] Na Espanha existe um rio Aliste.
[3] No vizinho Outeiro Maior houve uma vila medieval chamada Gacim. No lugar, hoje, conhecem-se os campos de Gacins. No uso desta palavra parece ter ocorrido uma evolução semelhante à de Gestrim.
[4] Etimologia proposta por Pedro Augusto Ferreira na sua Tentativa Etymologico-Toponymica, 3º vol., Porto, 1915, pág. 441.
[5] Numa acta camarária relativa a aforamentos ocorre o nome Maria Remestilha, solteira.
[6] No lugar, em vez de Trás-da-Serra, falaram-nos de Trás-Serra.


Lugares

Não sabemos hoje bem quais os lugares que pertenciam à paróquia de Gresufes e quais os que então pertenciam à de Balasar, mas podemos imaginar que a Gresufes se juntassem Além, Vila Pouca, Vila Nova e Outeiro. A Balasar pertenciam Escariz, Matinho, Lousadelo, Casal, Gestrins, Telo, Guardes e Guardinhos.
As Memórias Paroquiais de 1758 apresentam uma lista deles que já está próxima do que é a realidade actual. São treze, “a saber: Gandra, e este tem oito fogos; Gresufes, tem dezasseis fogos; Vila Nova, tem nove fogos; Além, nove fogos; Vila Pouca, quinze fogos; Escariz, nove fogos; Igreja, oito fogos; Pousadela, dezoito fogos; Casal, trinta e dois fogos; Telo, vinte e seis fogos; Gestrim, cinco fogos; Guardes, três fogos; Guardinhos, cinco fogos”.
Pousadela há-de ser Lousadelo. É com a forma Lousadelo que o P.e António da Silva e Sousa escreve sempre a palavra nos assentos paroquiais.
É normal que alguns lugares se extingam (Tinta, Boucinhas, Azenhas), que outros surjam (caso por exemplo da Cruz, Calvário, Fontainhas). Em Balasar, parece que ocorreram casos de desdobramento, isto é, onde noutros tempos havia apenas um lugar hoje conhecem-se dois ou mais. Será este o caso do Casal, que incluiria alguns lugares actuais vizinhos.


Povoamento e novos lugares

Nas Inquirições é referida a criação de casais e as dificuldades que os novos moradores enfrentavam frente às malfeitorias dos mordomos. Fala-se até duma póvoa, um novo povoamento junto a Guardes.
Parece que o primerio passo para povoar uma área erma era verificar a existência de fontes. De facto, em tempo em que não havia poços, elas eram indispensáveis e é comum encontrá-las próximo das casas mais antigas duma freguesia.
O P.e Leopoldino assinala 24 lugares em Balasar, incluindo neste número a Tinta.
Um desdobrável da Junta conta 23: seis a norte do Este: Fontainhas, Gestrins, Guardinhos, Quinta, Telo e Vau; dez a sul, mas a poente da estrada que vai da Igreja para Fradelos: Bela, Bouça Velha, Calvário, Caminho Largo, Casal, Cruz, Fontela, Lousadelo, Monte Tapado e Terra Ruim; e seis a nascente da mesma estrada: Além, Escariz, Gandra, Gresufes, Matinho, Outeiro e Vila Pouca.
Ignora Guardes, a Covilhã, Agrelos e Vila Nova.
Gestrins, que é hoje um lugar muito povoado, entre o tempo das Inquirições e das Memórias Paroquiais, que foram 500 anos, manteve o mesmo número de fogos. Quase a mesma coisa sucedeu em Guardes (que aliás ainda hoje não tem mais casas que nesses tempos distantes). 


Marcos

De acordo com o estudo de Eduarda Maria Silva e Maria Rosa Mateus Inventário Epigráfico dos Marcos e Divisórias do Concelho da Póvoa de Varzim, Balasar não possui marcos delimitadores. Mas há marcos de outras freguesias, bem como alguns da Casa de Bragança, que ajudam a estabelecer essa delimitação. Parece-nos todavia que há algumas observações a fazer relativamente ao Inventário destas autoras.
No Tombo da Comenda, a delimitação de Balasar começa no Monte dos Lobos e aí naturalmente termina. Não se vê porquê, pois parece que seria normal que começasse e acabasse num espaço habitado; ora ali é o centro duma vasta zona erma (9).

As autoras do Inventário afirmam que havia lá um marco que assinalava o ponto de encontro de três concelhos, Póvoa de Varzim (através de Balasar), Vila do Conde (através do Outeiro Maior) e Vila Nova de Famalicão (através de Fradelos), mas que desaparecera. Actualmente, esse marco foi reposto no seu lugar. Segundo a nossa leitura, a inscrição que ostenta diz o seguinte:

S.MDO
OUTEIRO
CDVC
1857

Depois de se desenvolverem as abreviaturas, ficará: “S. Martinho do Outeiro, Concelho de Vila do Conde, 1857”.
É portanto um marco relativamente recente, posterior à reorganização administrativa liberal e às mudanças de concelho que Balasar e o Outeiro Maior sofreram.
As autoras citadas reconheceram-se incapazes de interpretar as duas letras dum outro marco que, segundo dizem, assinala, em Trás-da-Serra, a extrema de S. Martinho do Outeiro (ou antes, Outeiro Maior) com Balasar. Aqueles dois SS ao cimo significam muito provavelmente S. Simão (da Junqueira), a que pertenceu a freguesia do Outeiro Maior (e também a de Arcos).
O marco poderia limitar apenas propriedades do mosteiro em Balasar.
Trata-se de um marco antigo. Em 1680, ainda o Mosteiro da Junqueira estava activo e como tal continuou, como o demonstra a rica igreja dele que chegou até nós. Não era o caso de 1807, mas havia então naturalmente um senhorio que reivindicava os direitos respectivos (10).
Os marcos da Casa de Bragança que o Inventário identificou nas Fontainhas conservam memória do antigo reguengo de Agistrim e secundariamente do Couto de Rates. Abaixo do brasão, está o costumado B (de Bragança). 
Um outro marco também interessante é o que as autoras do Inventário chamaram de Montilhões, já que este topónimo (sob a forma Montilhão) ocorre no tombo e identifica o limite de Balasar com Fiães, uma área sensível na Idade Média, pois ficava ali ao lado de Gestrins. Há um marco semelhante na Quinta da Covilhã.
Mas o marco mais importante é o que indica o ponto de encontro de Balasar, Rates e Arcos. Cremos que é um menir, que está ali desde época das mamoas e que teve função delimitadora desde o tempo dos romanos. Durante muito tempo chamaram-lhe Pedra Negra (designação que se usou em Balasar para outras pedras).



[1] Esta mamoa não vem no estudo “Levantamento do megalitismo do Concelho da Póvoa de Varzim”, da autoria de Eduarda Martins Moreira da Silva e Maria Rosa Almeida Mateus, saído no boletim cultural Póvoa de Varzim em 1990, vol. XXVII, pp. 61 a 80, onde são referenciadas nove mamoas.
[2] Os documentos mais antigos não dão muita notícia do lugar do Outeiro, mas é possível encontrar menção dele pelo menos no séc. XVIII.
[3] Que razões terá havido para construir primeiro a igreja em Lousadelo e reconstruí-la depois no Casal? Lousadelo, para quem olha do actual adro ou do Telo, é uma pequena colina. Uma igreja ali tinha uma visibilidade de muitos lados. Essa poderá ter sido uma razão para então a erguerem lá. E para sul devia ser quase tudo bravio: os actuais lugares do Calvário, Matinho, Caminho Largo, Pedreiras, Monte Tapado, Terra Ruim, Bela não teriam uma única casa (é possível que tenham desaparecido também alguns lugarejos habitados, por exemplo, nas proximidades de Monte dos Lobos, por onde passaria talvez um caminho em direcção ao Vau). Como se dirá em 1420, Balasar era terra pequena (em termos de área habitada). A mudança para o Casal ter-se-á justificado pela importância do lugar, que mais à frente tentamos esclarecer.
[4] COSTA, Avelino de Jesus da, O Bispo D. Pedro e a Organização da Arquidiocese de Braga, 2.ª ed., Braga, 1997, vol. II, pág. 54.
[5] Provavelmente, esta expressão que vem no Tombo da Comenda é erro por Agra dos Fiães.
[6] No vizinho Outeiro Maior houve uma vila medieval chamada Gacim. No lugar, hoje, conhecem-se os campos de Gacins. No uso desta palavra parece ter ocorrido uma evolução semelhante à de Gestrim.
[7] Etimologia proposta por Pedro Augusto Ferreira na sua Tentativa Etymologico-Toponymica, 3º vol., Porto, 1915, pág. 441.
[8] No lugar, em vez de Trás-da-Serra, falaram-nos de Trás-Serra.
[9] Como já alvitrámos, não é de excluir a hipótese de Monte dos Lobos ter sido um dia lugar habitado.
[10] No Outeiro Maior, em Fontelheiros, a delimitar a freguesia com Bagunte, há um marco a que falta parte do extremo superior, mas que era quase de certeza igual ao de Trás-da-Serra.